Mostrar mensagens com a etiqueta belchite. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta belchite. Mostrar todas as mensagens

9.12.16

mini série documental bbc | GCE | 6 episódios 

(vale a pena espreitar os comentários..)







29.11.16




"Passámos em Cadis, depois das barricadas de Dezembro, no momento das guerrilhas e da anarquia liberal. Muita gente morreu nas ruas da cidade, muitos homens tinham seguido nos partidos, e, disperso pelos montes, não haviam voltado ainda. Isto, que não influenciava materialmente a vida da cidade, tirava-lhe contudo alguma coisa do seu impaciente movimento. À noite, porém, as ruas alumiadas claramente, cheias de lojas e de luz, estão apinhadas de gente. As mulheres passam aos grupos, embrulhadas nos mantons, que são ainda o vestuário de Cadis, e às esquinas, imóveis com a lanterna na mão, os "serenos" vigiam.
A um canto de rua, numa casa grande e clara, surpreende-nos um quadro verdadeiramente espanhol: a um balcão alto, recortado, colorido, na abertura das cortinas escuras, molemente abertas sobre um fundo alumiado de sala, destacam-se três figuras femininas. São três mulheres vestidas de negro, conversando, tomando ar, olhando a rua. Nas atitudes, no vestuário, nos tons harmónicos de luz e de sombra, num certo mistério-ambiente, era certamente um quadro dos velhos costumes espanhóis do tempo de Isabel.."

Eça de Queiroz, 1869, in O Egipto e outros textos sobre o médio oriente

11.8.14

novela de Belchite

1/15/14 at 4:55 PM

Mas pensei numa novela para Belchite..  Belchite é a capitulação da revolução e da guerra, mesmo a final...  Tem um sub-texto incrível. Aquilo não interessava para nada, o que interessava era Zaragoza, mas o exército popular precisava de uma vitória fácil e rápida para consolidar a sua posição (militarizar as milícias e as colunas no seu regimento e acabar com a destabilização, foi o que na pequenez dos eventos se proporcionou...). Aqui entra faca e alguidar, sangue e lágrimas.. generais que não querem ser generais.. enfim...

7.7.14

Belchite enquanto falência da guerra como imagem literária, romântica..


11/18/13 at 2:41 AM

Sobre a ideia de guerra romântica (e fluxo geral em direcção a espanha) diz Christopher Hitchens:
 
"The suport of many european intelectuals and poets for the greek war of independence, the greek revolution against the Ottoman empire in the 1820´s, where the most famous figure is of course George Gordon, also known as Lord Byron, english poet who died for the freedom of Greece. That is what gives birth to the romantic movement witch is a big influence troughout the next century."
 
Diz também Hitchens sobre o golpe em espanha e a resposta do movimento operário internacional:
 
"In Spain it is true that a number of writers and intelectuals and poets were associated to the fight, but the ranks of the International Brigades were largely made of jewish workers from the Eastend in London, welsh and scotish coalminers, engeniers from the netherlands... And here´s what I think is the crutial thing: The german labour movement, the biggest and best organized labour movement in europe go hunder Hitler without a shot being fired. They´ve seen the same thing happening in Austria in 1934, seen the workers in the streets of Viena reduced to rumble by artillery with bear resistance. Seen one after the other, the great achievments of the european labour movement just fall to fascism and decided that not in Spain, in Spain we´re gonna draw the line. The working class is gonna fight back now. They shall not pass was the slogan."
 
Ainda os heróis românticos
 
e a Banda Desenhada:
 
(se por algum motivo estranho não conheceres o Corto, diz-me)
In July 1936 the Spanish civil war begins and it will last until May 1939. Corto joins the International Brigades fighting with John Cornford (son of the English poet Frances Cornford Croft, grandson of Darwin). Then we lose track of Corto. In January 1941, in the story “The Scorpions of the Desert” Cush, says, “It seems Corto Maltese disappeared during the Spanish Civil War.” We also learn that Corto sent a hawk, Al –Andaluz, to Cush from Spain.
Did he disappear in 1936 after the “last romantic adventure,” the Spanish Civil War? It could be, but apparently there is a letter written by Pandora in which she says that Corto and Tarao, now of a certain age, went to live with her and her children (who consider them as “uncles”).
 
Esta história é deliciosa, parágrafo na página da wikipédia sobre a Simone Weil: 
 
"Em julho de 1936, com a eclosão da Guerra Civil Espanhola, Simone juntou-se à causa republicana. Mesmo sendo míope e frágil, recebeu um rifle e foi incorporada a uma unidade de anarquistas. Sem nenhum preparo para a vida militar, ela quase que imediatamente enfiou o pé numa panela de óleo fervente e teve de ser resgatada por seus pais, que a mandaram para Assis, na Itália, para recuperar-se. Desanimada com as atrocidades que havia visto seu próprio lado cometer, Simone reafirmou seu pacifismo."

Belchite (1)


11/4/13 at 12:39 AM

Bom, ok, Belchite.

Não senti ou percebi reconciliação nenhuma no pouco ou nenhum contacto que tive com as pessoas em Belchite.. Aquela zona fica (para quem vem de zaragoza) depois de um pequeno deserto, no meio do nada e a talvez 10km da vila onde o Goya nasceu (Fuentetodos). É mesmo bonito, e de facto, isso é uma das coisas que eu adoro em Espanha, tem uma paisagem inesperada, conspirativa quase, troca-te as voltas. E porque caraças, é que Belchite toda ela muito mourisca, localizada muito depois de um caminho de cabras pelo meio de calhaus e terra, se torna importante na guerra civil espanhola..?!
Há mesmo qualquer coisa de romântico quando fazes este caminho para ir ver uma ruína.

Depois Belchite, ou melhor, nova Belchite é uma vila (reconstruida ao lado da ruína), pirosa todos os dias, bucólica como nos é familiar, quente (ferve) e há outras coisas sobre as quais se pode construir uma imagem entre o familiar e o estranho: o cão sarnento que se atravessa em diagonal no teu caminho, as moscas moles, a sensação de que os relógios estão a procrastinar, ou imaginares por dois segundos que "ali" deve haver escorpiões. As pessoas parecem suspeitas, ou então, em zonas pesadas e de algum modo silenciosas, tudo parece suspeito!
Na nossa visita guiada (só depois percebemos que era possível invadir as ruinas) havia várias pessoas, essencialmente espanhóis. A nossa guia (sessentona, natural da velha Belchite), cujo pai lutou pelo Frango, explicou-nos um pouco de tudo, havia está claro um discurso tendencioso que irritava o gordinho do grupo que lhe respondia torto. E havia também o outro guia, algures à esquerda, que pelos vistos tinha uma versão mais rigorosa e complexa da história local. Pareceu-me que era bastante dividido. Acho que ali nunca houve reconciliação, o que deve haver é uma relação agastada entre traição e rancor. Aquilo foi completamente massacrado, primeiro pelos republicanos, depois pelos nacionalistas, e de cada lado os devidos expurganços. Mas como é que uma comunidade se recompõe disto?
Na minha ficção pessoal sobre Belchite, o pessoal tem caçadeiras debaixo das mesas de jantar, e se houver a mínima oportunidade, tomam os seus lugares (trincheiras, casas, buracos) e vai de ajustar contas antigas.
É fácil de perceber porquê. Aqui dá-se também o caso comum da pequena escala que replica a grande escala: uma pequena guerra, à escala local, na grande guerra. Belchite era, como seria de esperar uma vila rural, extremamente católica, conservadora e tendencialmente pró Frango. Assim por alto (não aprofundei isto), Belchite fazia parte de um plano ofensivo por parte da republica em direcção a Zaragoza, e mais importante do que avançar nessa direcção, penso que toda a ofensiva era uma medida de diversão para atrair os nacionalistas que se dirigiam para norte, a fim de tomar o país basco, que de resto tomaram na mesma. Foi um derramamento de sangue, como tantos outros, completamente inútil. E Belchite resistiu ferozmente à ocupação republicana. Uma das coisas mais incríveis quando aprofundas estas questões, especialmente com os espanhóis, são as técnicas caseiras e absolutamente rebuscadas de resistencia/rebelião - numa palavra guerrilla (que de resto lixou e bem as tropas napoleónicas durante a guerra peninsular). Os gajos barricaram-se em casa e abriram túneis entre as casas e adegas, armados na medida do possível (porque estavam sozinhos) iam fazendo alguma resistencia (os nacionalistas estavam concentrados em Zaragoza)...Eventualmente os republicanos abriram caminho e a vila cedeu, com um número completamente abusivo de baixas para os próprios republicanos.  Tomam-se as devidas diligencias (fuzilamentos), e enfim Zaragoza nunca é conquistada. Quando Belchite volta ao poder nacionalista (não faço ideia quando, provavelmente mais para o fim da guerra), e depois dos devidos fuzilamentos, o resto dos republicanos são "acomodados" nuns barracões algures perto e obrigados a trabalhar na reconstrução da nova Belchite.  A este espaço, hoje em dia meio abandonado, chamaram carinhosamente de pequeña rusia...




George Orwell BBC Arena Part 3 Homage to Catalonia