26.1.14




10/25/13 at 3:49 PM

1. Sobre Espanha, Portugal e o colectivo geográficóvirtualíssimo que é a península Ibérica
Passado um tempo de me mudar para Bergen, dei por mim embrenhada numa nostalgia profundamente ibérica (o que é um bocado estúpido, já que nem nós, nem os espanhóis pensamos na península ibérica em termos de colectivo - apesar de termos uma relação geográfica que determinou um passado histórico comum, que traça mais linhas horizontais do que uma fronteira vertical).

Acho que este género de considerações são típicas de quem está fora. Primeiro é uma questão de escala, e depois uma questão de distância e finalmente faz todo o sentido, porque tens tendência para abstractizar a localidade, neste caso Portugal. E claro, dependendo de para onde te deslocas (no meu caso, na Noruega), podes ser sulista, portuguesa, europeia, terceiro-mundista, emigrante ou simplesmente estrangeira, latina, preta, exótica etc. Depois desta ginástica, a tua ideia de nacionalidade (coitadinha) cabe nos sítios mais estúpidos e improváveis.. - o que nos leva outra vez para um sentimento profundamente ibérico, com tudo o que há de despropositado nisso. 

25.1.14




Danse Macabre | Dudley Murphy
(1922)









24.1.14





















Pescando as almas, Adriaen van de Venne

23.1.14

 

Tierra Española (Joris Ivens, 1937)

(já tínhamos falado disto? filmado também durante a guerra..)







22.1.14

A Short Vision (1956)





um assunto que NÃO queremos: a ameaça nuclear. Mas a animação é gira..
Passagem de um texto de Rui Eduardo Paes sobre música, utopias e o livro The Dispossessed de Ursula Le Guin:

(...) Por algum motivo Kim Stanley Robinson, sustenta peremptoriamente que "a Ficção Científica é, presentemente, a mais importante forma de arte". Aliás, a FC tomou nos últimos 50 anos o lugar que as utopias tiveram desde, pelo menos, o século XVI e um visionário chamado Thomas Morus. Com a vantagem de o imaginário utópico actual, seja o projectado para outros planetas (The Dispossessed, Ursula Le Guin) como aquele que refere um tempo terrestre derivado dos presentes circunstancialismos (The Free, Mike Gilliland) ter perdido o clássico carácter distópico...

  Afinal em Arrares, o mundo que aplica os princípios da filosofa anarquista Odo (cuja obra Le Guin imagina como uma síntese das ideias libertárias desde Proudhon até 1974, ano em que publicou o livro), no já referido The Dispossessed, a música, tal como de resto, todas as demais artes, "não é considera como tendo um lugar na vida, sendo antes uma técnica básica da vida, à semelhança do discurso falado". Se todos aprendem a cantar e a tocar um instrumento desde crianças e se todos criam (ou não) música quando o entendem, na sociedade odonista não há músicos profissionais nem propriamente "concertos". A música faz parte do quotidiano, mas não dispõe de um espaço próprio e diferenciado no aparelho de produção, nem de círculos de distribuição ou de divulgação específicos.

  Até um ilustre, ainda que polémico, cientista como o protagonista Shevek dedica uma boa parte da sua atenção ao trabalho socialmente útil no imediato, surgindo a Física apenas como um part-time no seu dia-a-dia ou como uma actividade concentrada e períodos isolados na sua duração. Ora, não sendo a música considerada um bem de primeira necessidade, os odonistas criam-na somente nos tempos que o ensino da música lhes deixa livres, inserindo-a em contextos de socialização dos trabalhadores em que todos são músicos e ouvintes em simultâneo.

  Como escreve Ursula Le Guin quando Shevek assiste a um espectáculo na capitalista Abbenay, "ele pensava que a música era algo que se fazia e não que se ouvia". Pela primeira vez, testemunha um momento musical fruto da divisão e da especialização do trabalho, em que músicos tocam para não-músicos. Esta diferenciação social entre "produção" e "consumo" está no cerne mesmo do fenómeno pop. Se todos tivéssemos habilitações musicais não haveria tops ou hits. Nem de resto, Ghost Mice ou Jello Biafra.

  É neste ponto que a utopia da escritora norte-americana se confirma como uma contra-utopia, ou seja, uma utopia que a si mesma se denuncia, expondo, desmontando e recusando as suas tentações absolutistas. Mesmo não havendo governo, patrões e hierarquias, a sociedade e os seus utilitarismos constituem, ou podem constituir, um constrangimento à liberdade dos indivíduos.

  Só em parte Bakunine tinha razão quando dizia que uma pessoa só é livre quando todas as outras também o são. Todos esses outros homens e mulheres livres podem ser a causa de não o sermos nós mesmos...

  Como afirma a personagem Bedap sobre o "sofrimento espiritual" de alguém que deseje outra coisa que não aquilo que é pretendido pela generalidade dos cidadãos, alguém, por exemplo, que sinta a necessidade de se expressar musicalmente a tempo inteiro: "O sofrimento de pessoas que vêem o seu talento, o seu trabalho, a sua vida perdidos. De boas mentes submetidas a gente estúpida. De força e coragem estranguladas pela inveja, pela ganância do poder, pelo receio da mudança. A mudança é liberdade, a mudança é vida - há algo de mais básico no pensamento odoniano do que isso? Mas nada mais muda. A nossa sociedade está doente."

 É o que se passa, precisamente, com Salas, o compositor. Porque os mandatados do Sindicato dos Músicos não gostam do que faz, impedem-lhe uma maior dedicação à escrita. Numa reacção de rebeldia, ele recusa-se a dar aulas... "É que eu não componho dessa maneira que se ensina no conservatório. Componho música disfuncional. Eles querem corais, mas eu odeio corais. Querem peças de harmonia aberta como as que Sessur escrevia, mas eu odeio a música de Sessur. Estou a escrever uma peça de música de câmara e vou chamar-lhe "O Princípio da Simultaneidade" [nota: o mesmo nome da teoria física de Shevek]: cada um dos cinco instrumentos toca um tema cíclico independente, sem causalidade melódica, com o processo de desenvolvimento surgindo inteiramente da relação entre as partes."

  Infelizmente, como Sala conclui, "eles não ouvem, não querem ouvir". É a vertente colectivista da Anarquia que se contrapõe à individualista, comprovando que os preceitos comunistas de Kropotkine só fazem sentido quando se colocam em prática também os "egoístas" de Stirner, sob o risco de se instalar outro totalitarismo.

  Repare-se no comentário de Bedap: "Como podem eles justificar esse tipo de censura? Tu compões música! A música é uma arte cooperativa, orgânica por definição, social. Pode ser a mais nobre forma de comportamento social de que somos capazes.E é com certeza um dos mais nobres trabalhos que um indivíduo pode desempenhar. Pela sua natureza, pela natureza de qualquer arte, é uma partilha. O artista partilha, é essa a essência da sua actividade." Ou seja, "a complexidade, a vitalidade, a liberdade de invenção  iniciativa que estavam no centro do ideal odoniano estão a ser deitados fora". "Estamos a voltar à barbárie."

  The Dispossessed vira os princípios anarquistas contra os próprios princípios anarquistas, apresentando a sociedade alternativa não como uma solução perfeita, mas como algo que tem os seus inerentes paradoxos e é necessário aperfeiçoar continuamente. Nada que se assemelhe ao congelado e estéril Falanstério de Fourier. Seja como for, um Jello Biafra ou um Lemmy não podem esperar um cenário minimamente parecido com aquele que os conduziu à fama. (...)












 Yo deseo que todos los niños españoles tengan una casa alegre con cariño y con joguetes, y por eso envio un beso a todos los niños del mundo..
                    

 

 Os Stranglers às vezes são uns patós mesmo cómicos. No álbum Aural Sculpture, de ´84 ou assim, têm um tema chamado Spain, um postal com o seu humor de british-pub-rockers acabados de descobrir novos destinos de férias pelo sul... "looks a little like California..."
Tem um pormenor curioso, uma voz feminina no refrão que repete as palavras da Carmencita Franco nos filmes propagandísticos dos nacionais durante a guerra. Uma referência mais obscura que eu sei cá...

"Should've happened for them in the 30's, But the pleasure got caught in pain"






Found a place in the southern reaches
A day or two in a saddle ride
If you're looking for leather breeches
They've got some damn good hides
If you're looking for the wild country
And you can live without John Wayne
There's a place that is down in history
Under the name of Spain
Under the name of Spain

If you want to leave the clouds behind you
Take a walk into sunshine
Plenty of it in the southern reaches
Where they're making future wine
Looks a little like California
Prickly pears and rolling plains
It's a place I could fly my flag today
Under the name of Spain
Under the name of Spain

We knew that it was love at first sight

Watch them move into the future
Got a lot of catching up to do
Hope they take a lesson from their neighbours
That'll show 'em what not to do
Should've happened for them in the 30's
But the pleasure got caught in pain
Ended up like the bull in the china shop
Under the name of Spain
Under the name of Spain

We knew that it was love at first sight
We knew that it was love at first sight



21.1.14

Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de goya





Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso. 
É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural. Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós. E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo. Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente â secular justiça, para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.» Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória. Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de urna classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência de haver cometido. Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos. Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus. Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor. Mas isto nada é, meus filhos. Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho. Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de té-la. É isto o que mais importa - essa alegria. Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá. Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga - não hão-de ser em vão. Confesso que multas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável. Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado? Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã». E. por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para a guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena

Os Salteadores




Os Salteadores, uma animação de Abi Feijó a partir de um conto de Jorge de Sena. A ver se encontro isso n´algum livro...  (toca os assuntos de Cambedo e similares, muito antes de se falar disso...)

Encontrei um artigo sobre o Sena para me afinfar já ao mapa de afinidades e empatias penisulares.

13.1.14

Humboldt


(sobre biologia, algures no séc. xix)

12.1.14


Entrevista com Jacques Derrida, (sobre individuação, tecnologia e mambo jambo), citado por Bernard Stiegler em the decadence of industrial democracies.


Raymond Pettibon, Untitled (the light which), 2004

9.1.14

**Majos e Majas**  Enrique Granados









"The words of the first line of this text were later used by Granados as an expressive indication in Los requiebros from the piano suite Goyescas: Con garbo y donaire. The second untitled text in Apuntes para mis obras was written upside down:"





Los majos que a mi me quieran
 han de ser de la sal y pimienta
Por eso lo quiero yo
y yo los quiero tanto.
Por eso los quiero
llamando al portal.
Los llamo y los quiero
con todo mi amor.
¿ Porque no me digan
que soy de rigor?
Y digo que si,
que!
no!
Eso mismo digo yo.




5.1.14

miller & orwell


































The meeting between the two writers didn’t quite come off as one might have expected it to. On the face of it they should have had a lot in common, both having been through the mill, both having been ‘down and out’ in Paris and elsewhere. But what a difference between them in their outlook on life! It was almost the difference between East and West. Miller, in his semi-Oriental detachment, accepted life, all the joys and all the miseries of life, as one accepts rain or sunshine. Orwell’s detachment was less innate than inflicted upon him by the force of circumstances, as it were. Miller was vulnerable and anarchic, expecting nothing from the world at large. Orwell was tough, resilient and politically minded, ever striving in his way to improve the world. Miller was a citizen of the universe and no more proud of it than a green olive is of being green or a black one of being black. Orwell, a typical Englishman, skeptical and disillusioned though he was, still had faith in political dogmas, economic doctrines, in the improvement of the masses through change of government and social reforms.  Liberty and Justice, which for Miller were personal attributes to be acquired only by constant individual self-improvement, were in Orwell’s opinion the appendage of democracy. Both were peace-loving men but, whereas Miller manifested his love of peace by refusing to fight for any cause, Orwell had no reluctance to engage in war, if the cause were, in his opinion, a just one.

‘You admit somewhere in your letter that you have never been fond of war, though at present reconciled to it,’ Miller wrote to me during the last war in a long letter which was later published under the title Murder the Murderer. ‘The truth is that nobody is really fond of war, not even the military-minded. And yet, throughout the short history of the human race, there have been only a few breathing spells of peace. What are we to conclude from this seeming paradox? My own conclusion is the simple, obvious one that, though fearing war, men have never truly and ardently desired peace. I do earnestly desire peace, and what intelligence I have tells me that peace is not attained by fighting but by acting peaceably.’

These lines were not written until June 1944, but the words he employed when Orwell came to enlist his sympathy for the Spanish republican cause were more or less the same, namely that liberty – a spiritual value – cannot be gained by war, any more than a mere military victory can enforce the justice of a cause, any cause. Miller did not try, of course, to win Orwell over to his way of thinking or even to dissuade him from going to Spain. Every man must do what he thinks is right, even if what he thinks right is wrong, was his conviction.
During the course of his visit that afternoon, as I learned later, Orwell had confided to Miller that his experience while serving in the police in India [sic] had left an indelible mark upon him. The suffering he had witnessed and which he had unwillingly aided and abetted, so to speak, had been a source of unremitting preoccupation ever since. It was to wipe out an unwarrantable feeling of guilt that he deliberately invited the deprivations and humiliations so graphically and poignantly described in Down and Out in Paris and London.

Miller of course not only understood Orwell’s desire for self-flagellation, being himself a notorious self-flagellant, but he also felt a great sympathy for him in his predicament. But why, having undergone all that he had, why, he wondered, did Orwell choose to punish himself still further? Miller would not have spoken in this vein to an ordinary volunteer whose idealism required the test of action. In Orwell, however, who he felt had already atoned for any guilt, real or imaginary, he sensed an individual who was of more use to humanity alive than dead.

To this Orwell made the classic reply that in such momentous situations, where the rights and the very existence of a whole people are at stake, there could be no thought of avoiding self-sacrifice. He spoke his convictions so earnestly and humbly that Miller desisted from further argument and promptly gave him his blessings.
‘There’s just one thing,’ said Miller, raising his glass in a final gesture of assent. ‘I can’t let you go to war in this beautiful Savile Row suit of yours. Here, let me present you with this corduroy jacket, it’s just what you need. It isn’t bulletproof but at least it’ll keep you warm. Take it, if you like, as my contribution to the Spanish republican cause.’

Orwell vehemently denied that he wore a Savile Row suit (it actually came from the Charing Cross Road) but accepted Miller’s gift in the spirit in which it was offered. Henry discreetly refrained from adding that Orwell would have been welcome to the jacket even had he chosen to fight for the opposite side.

3.1.14

Canciones para después de una guerra (1971)


Canciones para despues de una Guerra from naranjasdehiroshima on Vimeo.

Canciones is an amazing found-footage work that blends images from the Civil War and the early Franco years with both military and popular songs from the era. It was completed four years prior to Franco’s death, in a period when censorship had eased considerably, but was not allowed to be shown until the year after Franco had died. “The enjoyment of popular culture functioned as a survival strategy against wartime and dictatorial repression” and the film uses this to “reclaim the testimony of the popular memory to the detriment of the officially endorsed memory of the postwar years” (Tatjana Pavlovic, 100 Years of Spanish Cinema, p. 55).

a prank