15.2.14

sobre a hispanidade de El Greco



 (...) Por maioria de razão não se pode reduzir El Greco à sua hispanidade. Até aos últimos anos, quase todas as histórias da pintura espanhola, mesmo quando se davam ao ridículo de remontar até às cavernas de Altamira, despachavam em quatro páginas tudo o que precedia Berruguete. A pintura espanhola interessava os especialistas apenas quando esses senhores podiam começar a apaixonar-se pelas suas características verdadeiramente hispânicas, a sua violência, os seus excessos, as suas deformações e o seu realismo.
  Assim numa obra de 1922, o historiador alemão August Mayer entusiasmava-.se pelo cão que dorme no primeiro plano do célebre Martírio de São Cucufat, do museu de Barcelona. O desgraçado de um tótó adormecido tornava-se assim o símbolo da hispanidade. O aborrecimento, é que se descobriu, recentemente que o autor do Martírio de São Cucufat é um pintor de origem alemã (Ayne Bru), que pintou essa telavinte-e-cinco anos mais tarde do que se julgava, o que deu em pantanas com toda a bonita construção de psicologia nacional edificada sobre os rins do pobre quadrúpede.
  O perigo de ser demasiado sabido ameaça sempre o crítico de arte, visto que ele sabe sempre o que se passa a seguir.  Ele sente a tentação de escrever uma geneologia moral, em que os pintores românico-ibéricos engendrariam a El Greco, e El Greco a Velásquez, e este a Goya, e Goya a Picasso, etc. (...)

Claude Roy

9.2.14

interlúdios da pesquisa
(...)


A conversa é que os reúne
perto da sebe. Por trás,
um silvado nos emaranha as luzes
que dissimulam o recinto. E há
ausência de objecto na conversa. Que urge
destrinçar.
Primeiro a esparsas résteas de perfume
se aplica a atenção. O ar,
um pouco mais longe, incute
a próxima certeza de se estar
vendo o exercício significante às luzes
e sabendo que, por trás,
só a inocência dos mortos se reúne.
Divertindo-se a esconder-nos o lugar.

fernando echevarría